Olá, como estão?
Ontem, fui levar a vacina
para a gripe.
Aliás, levo-a anualmente.
Tem que ser…
Com este sistema imunitário
de passarinho…
Todos os anos, em Outubro, a
história se repete: vacina injectável para a gripe e vacina oral (comprimidos)
para as constipações.
Todos os anos levo as
vacinas, mas todos os anos sou apanhada.
Por constipações, não gripes
– eu dantes também chamava gripe às constipações, mas desde que, há coisa de
quinze anos, tive gripe mesmo gripe, acreditem-me, nunca mais troquei os nomes.
Gripe é gripe, constipação é constipação.
Então no ano passado fui
apanhada tanta e tanta vez…
Estamos a entrar no tempo
frio.
E apesar de eu gostar do
frio, dou-me tão mal com ele…
É que o frio mexe muito com
os meus músculos: ficam tensos, rígidos. A coisa é de tal maneira, que chego a
ter dores loucas, a ponto de me fazerem chorar.
E isso é muito raro: eu
chorar com dores. Posso chorar por muita coisa (tristeza, raiva, frustração…),
mas contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que chorei de dor – física,
claro.
Mas sabem com o que me dou
mesmo mal?
Com a humidade.
Ontem estava a ler uma
notícia qualquer sobre doenças raras e medicamentos órfãos e pus-me a pensar…
Como alguém com uma doença
rara (para os mais distraídos, relembro que tenho ataxia de Friedreich), nunca
se sentiram tipo párias, aberrações?
Eu já.
E nem é pela doença em si.
Mas sim como somos tratados
pela indústria farmacêutica.
Eu passo a explicar:
Como a doença que tenho é
rara, a mesma é “olhada de lado” pela indústria farmacêutica, pois mesma não
representa grandes lucros. Daí, a designação de “medicamentos órfãos”. É
triste, mas é verdade. Não basta termos que viver com uma doença rara…
Não somos considerados uma
prioridade, mas somos uma realidade. E não é por nos “varrer para debaixo do
tapete”, que vamos desaparecer.
Dá-me a ideia de que se não
fossem os fundos destinados, especificamente, à investigação das doenças raras
e medicamentos órfãos, não saíamos da cepa torta.
O que também nos vai valendo
são as investigações financiadas pelas associações de doentes, à volta do
mundo.
Mas uma coisa é a
investigação… Outra, completamente diferente, é o interesse duma companhia
farmacêutica… Além de se financiar a investigação, muitas e muitas vezes também
tem que se financiar a própria linha de produção… E isso demora muito tempo,
pois até um medicamento aparecer nas prateleiras da farmácia, tem que haver
muitos testes e experiências, para avaliar a sua eficácia e segurança.
Por tudo isto, não acredito
numa cura para a doença que tenho.
Pelo menos, para já.
Acredito, sim, numa cura,
mas no futuro.
Não para a minha geração.
Mas vamos mudar de conversa.
O que agora está na ordem do
dia é a tal auxiliar de enfermagem que contraiu Ébola, em Madrid, mesmo aqui ao
lado, na vizinha Espanha.
Eu não vou agora aqui falar
da irresponsabilidade da mulherzinha – irresponsabilidade e desrespeito.
O que toda esta situação me
lembra é um filme: “Outbreak”, de 1995. Creio que o título, em português, é
“Fora de controlo”.
Não me lembro do realizador,
mas lembro-me do elenco: Dustin Hoffman, Renee Russo, Kevin Spacey, Morgan
Freeman, Donald Sutherland, Cuba Gooding Jr...
O filme também falava de um
vírus, extremamente mortal, que por acidente, é levado de África para os EUA.
Mas nos EUA o vírus sofre
uma mutação.
Percebem o que eu quero
dizer?...
Porque, para mim, esse é
maior perigo: que o vírus sofra uma mutação.
E com isto, me despeço.