Olá, como estão?
Há já algum tempo que não
passava por aqui…
Não que sirva de desculpa,
mas o frio não me tem dado tréguas:
E como atáxica, pior é.
Pelo menos, comigo.
Fico com os músculos
totalmente contraídos, tesos que nem um carapau.
Firmes e hirtos como uma
barra de ferro (lembram-se?... Como era mesmo o nome da personagem?... Prof.
Alexandrino, ou coisa que o valha…).
Então, no Domingo a coisa
esteve de tal maneira, que os meus dedos nem conseguiam segurar a colher, ao
almoço…
Mas as coisas são como são.
E o que não tem remédio,
remediado está.
Agora…
Já alguma vez se sentiram
pequeninos, muito pequeninos, microscópicos até, praticamente invisíveis?
Eu já.
Muita e muita vez.
Ultimamente, então, tem sido
por demais.
É praticamente todos os dias.
E depois, parece mesmo de
propósito, quando nós nos sentimos assim, na mó de baixo, é que somos
assaltados e invadidos pelas nossas memórias mais tristes, qual intruso
indesejado.
Por mais pequenas e ínfimas
que sejam.
Podem até ter passado quase
desapercebidas na altura, mas não interessa.
Quando estamos na lama, tudo
volta, com uma clareza surpreendente.
Tudo é reavivado.
E amplificado.
“Eu, verdade seja dita, não
me lembro de me ter sentido tão mal na altura, mas agora…”
Com vocês, isto não acontece?
Comigo, sim.
Lembro-me de três situações,
muito específicas.
Numa, eu já tinha
desequilíbrios, mas ainda andava sem ajuda.
Era uma manhã cedo, em
Santarém. Não me lembro do dia de semana, mas lembro-me que o tempo estava
nublado, a prometer chuva, e da roupa que vestia: saia de fazenda pregueada
azul escura, blusa branca, casaco de malha azul escuro e gravata em tons de
azul.
Ia para o trabalho, mas como
ainda era cedo, fui ver as montras, para fazer tempo.
No centro da cidade, ao pé
da montra do “Ponto Negro” (nem sei se esta loja aina existe…), tenho um
daqueles meus desequilíbrios: abano, mas não caio.
Imediatamente, ouço uns
risinhos de troça atrás de mim. Dois rapazinhos que passavam. “Aquela já vai bêbada,
a esta hora da manhã”.
Eu fiz o que podia fazer:
ignorar (?) e seguir em frente(!).
Também me lembro de quando
fui ver a peça de teatro “Macbeth”, de Shakespeare, ao Cartaxo.
Eu já andava em cadeira de
rodas, mas queria mesmo muito ver esta peça, pois gosto muito de Shakespeare e
“Macbeth” é, como um todo, a minha peça de teatro preferida.
(A título de curiosidade,
acrescento que a minha personagem masculina preferida, de Shakespeare, é
Shylock, de “O mercador de Veneza” e a personagem feminina è Hélène, de “Bem
está o que bem acaba”.)
Como o Centro Cultural do
Cartaxo, onde a peça estava em cena, tinha as condições de acessibilidade
necessárias, pensei que podia ir.
Depois de arranjar quem
fosse comigo, lá fui ver a peça de teatro.
E… adorei.
Mas já a pessoa que me
acompanhou… detestou.
Até aí, tudo bem: a pessoa
tinha todo o direito de não gostar da peça.
Mas daí a gozar abertamente,
praticamente a rebaixar…
Não vou mentir, aquilo doeu.
Muito.
Sei que a intenção da pessoa
não seria essa, mas a verdade é que me senti praticamente sem o mínimo direito
de gostar, pensar ou sentir.
Espezinhada, fui assim que
me senti.
Ou então daquela vez, em
criança.
Era recreio, na escola, e
estava a brincar com uns colegas.
Alguém propõe jogarmos “às escondidas”
(ou seria “à apanhada”?...), quando um dos meus colegas vira-se para mim e diz:
“A Fátinha não joga”.
Vocês não imaginam como
aquilo doeu...
Como uma ferroada
insuportável.
É…
Por muito que eu tente
evitar, é sempre nestas alturas que estas memórias voltam.
Com uma força assustadora.
E então, ergo muros e uso
uma máscara.
Para me proteger.
Mas esta máscara… muitas e
muitas vezes tem um efeito totalmente antagónico ao que é suposto ter: em vez
de libertar, aprisiona.
Com grilhetas de aço.
Uma última palavra para
falar da actualidade internacional, nomeadamente da Grécia.
Eu sou total e completamente
ignorante no que toca a economia, mas quer-me cá parecer que as pretensões da
Grécia são, no mínimo, lógicas.
Pagar o que devem, sim, mas
conforme podem.
Ou seja, querem o mesmo tipo
de acordo que foi feito com a Alemanha, depois da 2ª Guerra Mundial.
E os alemães, logo eles,
estão contra?!
Tenham vergonha!!!